SALVEMOS  O BRASIL ENQUANTO É TEMPO
Face à atual perseguição anticatólica: resistir ou deixar de agir?
Aumentam a cada dia as perseguições físicas ou morais contra católicos no mundo inteiro. Enquanto muitos transigem, escondem-se, toleram o relativismo moral imperante, aceitam a condição de cidadãos de segunda classe e levam uma vidinha tipo “católico de catacumba”, outros se mantêm intransigentemente fiéis à doutrina católica, lutam em defesa dos direitos de Deus, conservando inabalável a certeza da vitória final da Santa Igreja.
José Antonio Ureta


          
Ativistas do aborto e homossexuais profanam a Catedral de Santiago do Chile, durante missa dominical comemorativa da festa do padroeiro São Tiago

Os fanáticos abortistas nas ruas adjacentes à catedral
Com gritos insultantes, eles derrubaram confessionários e tentaram levar alguns bancos para fora a fim de queimá-los
 
Em extensa matéria, Catolicismo já abordou o tema da cristianofobia em nossa época, sobretudo das perseguições aos cristãos no mundo muçulmano (vide edição Nº 734, fevereiro/2012) [*]; trataremos neste artigo especialmente das perseguições nos países comunistas e no Ocidente.
Cumpre de início enfatizar que duas formas de cristianofobia — do Islã e do hinduísmo — estão baseadas em crenças e práticas de religiões pagãs, enquanto duas outras — do comunismo e dos Estados laicistas do Ocidente, com suas respectivas instituições internacionais — resultam diretamente da própria Revolução, conforme descrita na obraRevolução e Contra-Revolução, de Plinio Corrêa de Oliveira.
Com efeito, no Capítulo II dessa obra (“A crise do homem ocidental e cristão”), o Prof. Plinio enfatiza que a crise produzida pela Revolução “é principalmente a do homem ocidental e cristão. [...] Ela afeta também os outros povos, na medida em que a estes se estende e neles criou raiz o mundo ocidental. Nesses povos tal crise se complica com os problemas próprios às respectivas culturas e civilizações e ao choque entre estas e os elementos positivos ou negativos da cultura e da civilização ocidentais.”.
De onde se deduz que, embora a perseguição muçulmana e hindu possa ser mais sangrenta hoje, a comunista e laicista é intrinsecamente pior e, portanto, potencialmente mais sangrenta amanhã.
         Isto porque:
·        enquanto os pagãos adoram um falso deus e atacam os cristãos em nome e como forma de submissão àquele falso deus, os comunistas e seculares rejeitam a Deus e a todas as formas de religião, revoltando-se contra qualquer forma de submissão;
·        enquanto as religiões pagãs constroem sociedades misturando respeito e desrespeito à moralidade e à ordem natural, as sociedades comunistas e laicistas constituem uma subversão total da moralidade e da ordem natural (por exemplo, a imposição do aborto, do “casamento” homossexual e da “ideologia de gênero”);
·        enquanto a cristianofobia pagã conduz a ataques brutais diretos e a mortes, propondo como alternativa uma apostasia aberta (aumentando assim o senso de identidade cristã e a necessidade de união), a cristianofobia comunista e laicista sopra de modo sub-reptício, através de ataques tortuosos, propondo-nos um suave “compromisso” (erodindo assim a identidade cristã e nos dividindo);
·        enquanto a cristianofobia pagã moderna produz mártires, a cristianofobia comunista e laicista produz cristãos relapsos.
 
Blasfêmias e insolências foram pichadas em vários lugares

Vejamos mais detalhadamente por que as ideologias revolucionárias do comunismo e do laicismo conduzem de modo forçoso à cristianofobia e à perseguição aos católicos.
Lembremos de início que tanto o comunismo quanto o laicismo são herdeiros do Iluminismo do século XVIII — filosofia que considerava a religião como uma superstição obscurantista dos primeiros tempos do gênero humano, quando as pessoas não possuíam nenhuma explicação científica dos fenômenos naturais.
Imagens foram quebradas e jogadas no chão
Por esse motivo, a Revolução Francesa, fruto do iluminismo, adorou a deusa Razão e emitiu a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, na qual Deus não apenas era ignorado, mas erradicado das origens da autoridade social e da lei.
Apesar de essa declaração assegurar que “ninguém deve ser incomodado por causa de suas opiniões, incluindo suas crenças religiosas”, os revolucionários franceses proibiram os votos religiosos, suprimiram todas as Ordens religiosas e criaram uma Igreja Nacional cismática, perseguindo de modo inclemente os bispos e sacerdotes que não aderiram a ela.

Perseguição comunista aos cristãos
         O comunismo foi além e declarou guerra total à religião. Afirmou que a origem de tudo não é um Deus espiritual, mas a matéria que, apesar de inerte e inconsciente, entretanto possui propriedades de vida, consciência e alma.
No prefácio de sua dissertação de doutorado, Karl Marx adotou como lema a paráfrase do herói grego Prometeu, que desafiou os deuses a trazerem fogo à humanidade: “Odeio todos os deuses que não reconhecem o subconsciente humano como a mais alta divindade”.
“A religião é o ópio do povo: esta afirmação de Marx é a pedra angular de toda a ideologia do marxismo sobre a religião. Todas as religiões e igrejas modernas, todas e cada espécie de organizações religiosas são sempre consideradas pelo marxismo como órgãos da reação burguesa, usados para a proteção da exploração e da estupefação da classe trabalhadora”(Lênin V. I., Sobre a atitude do partido dos trabalhadores para com a religião, Obras selecionadas, v. 17, p.41).
Em nome deste credo materialista, o comunismo tentou erradicar todas as religiões, transformando “o crime de massa em um sistema desabrochado de governo”, nas palavras de Stéphane Courtois, editor-chefe de O Livro Negro do Comunismo. De acordo com este estudo metódico, o número de mortes causadas pelo comunismo em todo mundo totaliza 94 milhões de vítimas!

União Soviética
         A União Soviética foi o primeiro Estado cujo objetivo ideológico era eliminar a religião. Para esse fim, o regime bolchevista destruiu dezenas de milhares de igrejas, quando não as transformou para outros usos, e 13 mil sacerdotes “ortodoxos” foram presos entre 1917 e 1940. Uma extensa campanha de propaganda e “educação” foi empreendida para convencer as crianças e os jovens a abandonarem as crenças religiosas. A crítica ao ateísmo era estritamente proibida e resultava em prisão. Esta perseguição acarretou o assassinato de milhões de russos “ortodoxos” ou de católicos de minorias étnicas, como os lituanos.
Fuzilamento de um sacerdote durante a guerra e cristeros

México
A campanha do governo contra a Igreja Católica após a Revolução Mexicana culminou com a Constituição de 1917, que tornou ilegais as Ordens religiosas monásticas, proibiu o culto público no exterior dos edifícios da Igreja Católica, restringiu o direito de propriedade das organizações religiosas, impediu padres e monges de vestirem seus hábitos e negou-lhes o direito de julgamento por violação dessas leis anticlericais.
Heróicos mártires cristeros que entregaram suas vidas pela causa católica no México. Foto do ano 1929
         A primeira embaixada soviética no mundo foi aberta no México, tendo o embaixador observado que “não há outras duas nações que revelem mais semelhanças do que a União Soviética e o México”. Nessa ocasião, alguns governos ocidentais começaram a se referir ao “México Soviético”.
Quando a Igreja Católica condenou publicamente as medidas anticlericais, o presidente ateu Plutarco Calles promulgou uma legislação anticatólica adicional conhecida como “Lei Calles”. Os efeitos da perseguição à Igreja foram profundos. Entre 1926 e 1934, pelo menos 40 padres e milhares de leigos foram mortos. Em diversas partes do país, iniciou-se uma rebelião popular denominada Guerra dos Cristeros, a qual foi objeto do filme Cristiada, lançado recentemente com muito sucesso.

Espanha
Durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) ocorreu a “mais extensa e violenta perseguição ao Catolicismo na história ocidental, de algum modo até mais intensa do que a da Revolução Francesa” (Stanley Paine).
Profonação de túmulos e destruição da igreja de São Miguel de Alto, em Toledo
O governo republicano confiscou todos os edifícios da Igreja Católica — residências episcopais, casas paroquiais, seminários e mosteiros —, obrigando-a a pagar aluguéis e impostos sobre aquilo que lhe fora tomado de forma violenta. Paramentos religiosos, objetos litúrgicos, imagens, pinturas, vasos, joias e objetos similares, necessários ao culto, foram também confiscados ou profanados. Numerosas igrejas e templos foram incendiados, após terem sido nacionalizados. Todas as escolas privadas católicas pertencentes a Ordens e Congregações religiosas foram expropriadas e a educação religiosa proibida, mesmo em escolas particulares.
O número de mortos no clero incluiu 13 bispos, 4.172 padres diocesanos e seminaristas, 2.365 monges e frades, 283 religiosas, perfazendo um total de 6.832 vítimas, além de milhares de leigos.
         Foram beatificados ou canonizados até agora quase mil mártires espanhóis. Existem ainda cerca de dois mil mártires adicionais cujos processos de beatificação estão em curso.
China
A China tornou-se comunista em 1949. Seu governo formou os Três Movimentos Autônomos para induzir o clero a abandonar sua ligação com a Santa Sé sob pretexto de patriotismo e nacionalismo.
Durante a Guerra Civil Espanhola, os republicanos incendiaram numerosas igrejas e templos. Na foto à esq., a igreja dos Jesuítas é consumida pelo fogo.
Por volta de 1953 foram presos numerosos bispos chineses e estrangeiros, bem como padres e leigos. Diversos deles morreram no cárcere. Em 1955 houve uma prisão em massa em todas as dioceses, obrigando a Igreja a se refugiar na clandestinidade.
Fracassando no seu intento de erradicar a Igreja Católica, o governo chinês criou em 1957 sua própria igreja, chamada Associação Chinesa Católico-Patriótica(CCPA no seu acrônimo inglês).
Apesar das reformas econômicas e da abertura das fronteiras da China ao comércio, o Partido Comunista ainda controla todos os aspectos da vida política, econômica, social e cultural, inclusive a religião. Para esse fim, o governo chinês mantém a infame Administração Estatal para os Assuntos Religiosos, encarregada de vigiar as operações das organizações religiosas chinesas registradas, a fim de assegurar-se de que as mesmas apoiem e realizem as prioridades políticas do Partido Comunista Chinês.
Administração exerce absoluto controle sobre as nomeações religiosas, a seleção do clero e até sobre a interpretação da doutrina religiosa! (Por exemplo, a CCPA é totalmente subserviente ao regime e apoia inclusive sua política de “filho único”).
Por outro lado, até hoje o governo chinês considera ilegal o grande setor da Igreja Católica Romana que está na clandestinidade. Assim, a Santa Missa, as aulas de catecismo, o batismo e outros serviços religiosos de milhões de católicos romanos clandestinos devem ser realizados em casas particulares, sob segredo e com o risco de multas exorbitantes, quando não de cadeia, prisão domiciliar, torturas físicas e internamento em campos de trabalhos forçados.
         Atualmente, cada um dos cerca de 25 bispos clandestinos está escondido, ou se encontra na cadeia ou prisão domiciliar sob estrita vigilância. Muitos foram mortos ou desapareceram.
O Cardeal Joseph Zen Ze-kiun, arcebispo emérito de Hong-Kong, afirmou numa entrevista:“Eles [as autoridades comunistas] estão empregando métodos cada vez mais perigosos e requintados, não se atendo apenas a ameaçar as pessoas; pelo contrário, agora eles as estão conduzindo à tentação.
As duas fotos da esquerda, são de católicos da "igreja subterrânea" fiés a Roma na china

Procissão promovida pela Igreja Patriótica, fiel ao regime comunista chinês
“Eles não querem fazer mártires, querem encorajar renegados. Para a Igreja isso é muitíssimo pior. Eles dispõem dos meios para testar as pessoas, boas, fracas ou tímidas, e reduzi-las à obediência. Seus instrumentos são o dinheiro, mas também o prestígio, a honra ou posições na sociedade.”
         Apesar desta admoestação, há “inocentes úteis” na China que pensam ser melhor apertar a enganosa mão estendida pelas autoridades comunistas, sob o pretexto de tornar assim possível “difundir o Evangelho”, do que ir corajosamente para a clandestinidade.

Vietnã
Em 1954, o Vietnã foi dividido entre o Norte comunista e o Sul democrático. Havia cerca de 1.600.000 católicos no país, dois terços dos quais nas regiões que ficaram dominadas pelos comunistas.
Enquanto no Sul o presidente Ngo Dinh Diem (1901-1963) consagrou a nação à Virgem Maria, estendeu os direitos da Igreja Católica e promoveu um maior número de oficiais militares e servidores públicos sinceramente católicos, no Norte a perseguição religiosa começou logo, o que determinou que 670 mil católicos e 210 mil não católicos fugissem para o Sul.
Quando a Guerra do Vietnã se tornou ostensiva, os que permaneceram no Norte (bispos, padres, religiosos e leigos) foram enviados para campos de concentração e “centros de reeducação”. As escolas católicas foram fechadas.
Formou-se então uma associação “patriótica” subserviente ao regime denominada Comitê de Ligação dos Católicos Patriotas Amantes da Paz. Hoje ela se intitula Comitê de Solidariedade dos Católicos Vietnamitas (CSVC no seu acrônimo inglês) e dispõe de capítulos em 37 cidades e províncias do país.
Ngo Dihn Diem, presidente católico do Vietnã, com sua família e seu irmão, o acerbisco Ngo Dihn Thuc
Após a retirada americana em 1975, o Vietnã foi reunificado sob a égide comunista, adotando o nome de República Socialista do Vietnã. Cerca de um milhão e meio de sul-vietnamitas buscaram refúgio em diversos países, especialmente nos Estados Unidos. Muitos bispos do Sul foram enviados a campos de reeducação, juntamente com grande número de párocos e capelães militares. O mais famoso foi o Cardeal Nguyên Vãn Thuân. Preso de 1975 a 1988, ele passou nove anos em confinamento solitário.
No início da década de 1990, o governo vietnamita seguiu o modelo chinês de abertura econômica e ditadura política. A lei vietnamita exige que todos os grupos religiosos sejam registrados no governo e operem sob a tutela de organizações religiosas aprovadas por ele.
O governo moveu múltiplas repressões e um novo contingente de fieis foi enviado à prisão; houve ainda crescentes restrições. Particularmente afetado foi o grupo étnico dos Montanheses, da Cordilheira Central, onde as autoridades dissolveram reuniões religiosas realizadas em casas, orquestrou sob coação renúncias à fé, e fechou a fronteira para evitar que as pessoas pudessem fugir para o Cambodge em busca de asilo.
Comissão sobre Liberdade Religiosa Internacional, dos EUA, relatou que, “apesar de um marcante incremento da prática religiosa no povo vietnamita nos últimos dez anos, o governo continua a suprimir pela força as atividades religiosas organizadas, a monitorar e controlar as comunidades religiosas”.

Cuba
Após a revolução comunista de 1959, o regime de Fidel Castro adotou a política de promoção do ateísmo. As crenças religiosas eram consideradas reacionárias e os Comitês de Defesa da Revolução alertavam a população: “Não é bom para as suas crianças ir à igreja”.
Muitos crentes entraram em confronto com o regime e pagaram este “crime” com suas vidas ou com longos anos de prisão. Castro tentou então criar uma Igreja nacional, lançou uma campanha contra os bispos católicos, efetuou prisões maciças de religiosos e profanações de igrejas. Em maio de 1961, o governo confiscou o vasto sistema privado de escolas e muitos seminários. Em setembro, a tradicional procissão realizada em Havana para honrar a Virgem da Caridade, Padroeira de Cuba, foi reprimida violentamente, resultando na morte de um dos participantes. Esse incidente levou à imediata expulsão de 131 religiosos, inclusive do bispo Dom Boza Masvidal.
         Muitas pessoas religiosas se viram impelidas ao exílio por coerção, intimidação, ou pela impossibilidade de exercerem a sua religião. De 1959 a 1961, 80% dos padres católicos e ministros protestantes deixaram Cuba, refugiando-se nos EUA.
Em 1965 foram criadas as Unidades Militares de Ajuda à Produção, tendo muitos padres católicos e seminaristas sido enviados para tais entidades.
Implementou-se no decurso desses anos uma repressão mais sutil e indireta, embora muito efetiva, usando a educação e o lugar de trabalho como seus principais veículos. Os estudantes possuíam um Registro Acadêmico Cumulativo que supervisionava a sua “integração ideológica”. O envolvimento religioso dos estudantes e de seus pais constituía um “demérito” nos registros e seria usado para negar acesso à universidade e às carreiras. Exercia-se também um controle similar em relação aos funcionários nos locais de trabalho.
Dom Boza Masvidal, expulso em 1961 pelo governo comunista cubano juntamente com outros 131 religiosos
A política religiosa de Castro consistia abertamente em “fazer apóstatas, e não mártires”.
Por volta do fim dos anos 1980, após a publicação do livro Fidel Castro e Religião — uma entrevista com o “teólogo” da libertação Frei Betto —, houve um relaxamento da repressão por conveniências táticas. As pessoas começaram a frequentar em maior número cerimônias religiosas.
O arcebispo D. Pedro Meurice, de Santiago de Cuba, alertou que muitos fiéis católicos na ilha estavam desconfiados da atitude colaboracionista das autoridades da Igreja em relação ao regime: “Eles nos consideravam uma Igreja de mártires e agora alguns estão dizendo que nós somos uma Igreja de traidores”(Cfr. “La Voz Católica”, Arquidiocese de Miami, 14-3-1986, p. 15).
Nos anos subsequentes e após o colapso da União Soviética, o Estado cubano adotou uma posição mais conciliatória em face da religião e diminuiu a promoção do ateísmo. Em julho de 1992 a constituição foi emendada para remover a definição de Cuba como estado baseado no marxismo-leninismo, tendo sido adicionado o artigo 42, que proíbe a discriminação com base na crença religiosa.
Contudo, a atividade e as instituições religiosas ainda são regulamentadas pelo Escritório de Assuntos Religiosos. As Igrejas ainda enfrentam restrições de comunicação escrita e eletrônica e só podem aceitar doações provenientes de fontes de financiamento aprovadas pelo Estado. As autoridades não permitiram a construção de novas igrejas e com frequência ignoraram ou responderam negativamente aos pedidos para se efetuar reparos estruturais em igrejas construídas antes de 1959.
         A Igreja Católica evita uma confrontação política direta com o regime que, sem cessar de reprimir os dissidentes, soube utilizar-se de duas visitas papais para reabilitar sua imagem. Na esteira da visita de Bento XVI, só no mês de fevereiro houve mais de 600 detenções.
O acerbispo de Havano, Dom Jaime Ortega, acusado de alinhamento com o governo cubano, dialoga sorridente com o ditador Raúl Castro à sua frente.
Perseguição laicista aos cristãos
Entretanto, o primeiro prêmio deste campeonato de engano não se destina aos regimes totalitários, mas sim aos nossos próprios estados ocidentais secularizados.
Qual é a ideologia que está por detrás desta forma de cristianofobia?
Nosso regime político tem sido de fato chamado de “democracia sem valores” — um sistema que não reconhece uma Lei Superior ou mesmo uma natureza estável e, portanto, cria e modifica a seu bel-prazer seus próprios valores, o que facilmente leva a um totalitarismo aberto ou pouco disfarçado.
Seria ingênuo pensar que nossos regimes políticos permaneceram fiéis ao tipo de democracia burguesa e liberal — ainda mais ou menos respeitosa da ordem natural — nascida da Revolução Francesa. A partir dos anos 1980, em nome do princípio da não-discriminação e de uma nova interpretação dos Direitos Humanos, inclusive o dos assim chamados “direitos de minorias visíveis”, as democracias ocidentais evoluíram de fato rumo a um regime “multicultural”.
Além do mero fato de reconhecer a presença da diversidade cultural de determinada nação por causa da globalização, o Multiculturalismo é uma doutrina que promove a institucionalização dessa diversidade cultural, em nome do direito de diferentes grupos a um igual respeito e reconhecimento. Assim, em vez da tradicional integração dos imigrantes nos valores comuns que nutrem a identidade nacional, o Multiculturalismo transforma o país numa miscelânea de micro-sociedades separadas, centradas em si próprias e vivendo lado a lado, cada uma portando valores (e anti-valores) culturais e estilos de vida peculiares e por vezes contraditórios com a identidade nacional. Isto é particularmente agudo em nações europeias, que encontram dificuldades em controlar massas de imigrantes inassimiláveis, provenientes na sua maioria de países muçulmanos; ou então nas nossas nações latino-americanas, que devem fazer face a uma rebelião de tribos de índios aborígines, manipuladas pelo CIMI, por teólogos da libertação, antropólogos de avançada e ONGs estrangeiras.
Profanação de imagens religiosas durante a "marcha das vadias" no Rio, na semana da Jornada Mundial da Juventude. Uma clara afronta aos católicos.
Nesse contexto, o progressismoadvoga uma pretensa abertura de espírito para respeitar os diferentes valores culturais e tolerar os estilos de vida deles derivados, ainda quando em conflito com as leis do país.
Para esses antropólogos e teólogos progressistas não existem culturas primitivas ou atrasadas. Cada cultura deve ser julgada a partir da própria visão do mundo daquele grupo social específico, e as sociedades ocidentais não podem pretender dispor de um paradigma superior para julgá-la.
Foi em nome dessa ideologia multiculturalista e relativista que o conselho executivo daAssociação Americana de Antropologia se retirou em 1947 das discussões que conduziram à “Declaração Universal dos Direitos Humanos”, alegando que tal declaração não seria aplicável a todos os seres humanos.
O relativismo cultural conduz necessariamente ao relativismo moral, porque as culturas só podem manifestar uma tão ampla gama de preferências, motivações e critérios de análise se nenhum princípio moral puder ser declarado evidente e reconhecido como tal em todos os tempos e lugares.
Ao proclamar que a consciência autônoma do indivíduo prevalece sobre qualquer realidade objetiva, esse relativismo moral conduz a aberrações inimagináveis, como a de promover o direito da mãe de matar seu filho recém-nascido em nome do direito dela à saúde ou à felicidade, como foi recentemente defendido sob o nome de “aborto após o parto” por dois professores universitários que ensinam em Melbourne, na Austrália, em artigo publicado pelo conceituado “Journal of Medical Ethics”.
Ou o suposto direito ao casamento de pessoas do mesmo sexo, com todos os privilégios próprios a um casal bem constituído, incluída a adoção de crianças.
Ou ainda o pretenso direito de se autodefinir aleatoriamente como homem ou mulher, independente do sexo fisiológico de cada um e até sem cirurgia de “mudança de sexo” ou tratamento com hormônios. Tudo isso, em nome da “experiência de gênero como cada pessoa a sente”, conforme o estabelecido na Lei de Identidade de Gênero aprovada por unanimidade pelo Senado argentino.
Em nome deste novo “dogma” de liberdade total para os indivíduos e para as minorias visíveis — uma liberdade absoluta que recusa a ideia da natureza humana, a qual passa a ser considerada como uma superestrutura opressiva a ser superada — e também em nome de seu subproduto chamado de “luta contra a discriminação”, nossas democracias ocidentais estão pressionando os cristãos para agirem na vida pública contra as suas próprias convicções, apesar de todas as constituições democráticas assegurarem o direito à objeção de consciência.
         Vimos isso no decreto de Obama, segundo o qual os hospitais cristãos e o pessoal de saúde nos Estados Unidos deveriam ser forçados a realizar atos imorais como cirurgias de esterilização, enquanto instituições católicas seriam obrigadas a fornecer contraceptivos artificiais, e mesmo abortivos a seus empregados.
Assistimos servidores públicos cristãos no Reino Unido serem despedidos por se recusarem a abençoar uniões antinaturais como sendo casamentos.
Constamos escolas católicas terem que readmitir professores abertamente homossexuais ou transexuais (em Viena, até mesmo um Conselho Paroquial teve de admitir um conselheiro homossexual eleito, não por ordem do Estado, mas pelo coração “misericordioso” do Cardeal Schönborn!).
Assistimos pais serem colocados na cadeia por não permitirem que seus filhos sofram uma “reeducação” — corrompidos por programas de educação sexual imorais. E se eles decidirem ensinar-lhes aulas em casa, o Ministério da Educação de Alberta (Canadá) enviará supervisores para interrogar os filhos, a fim de assegurarem de que o ensinamento que estão recebendo não é “homofóbico”...
         Isso foi denunciado pelo Papa Bento XVI como flagrantes exemplos de “hostilidade e preconceito contra cristãos, porque eles resolveram orientar suas vidas de um modo coerente com os valores e princípios expressos no Evangelho”.
A flagrante contradição com que nos deparamos consiste em dizer que vivemos numa era da história humana considerada como a mais “tolerante” de todas! O que temos, pelo contrário, é a “ditadura do relativismo” denunciada diversas vezes pelo mesmo Bento XVI.
Esta “ditadura do relativismo” é a pior e mais insidiosa forma de perseguição religiosa, por nos forçar, a nós cristãos, cultivar uma “atitude de abertura” subjacente ao multiculturalismo e ao relativismo cultural, bem como adotar uma total aceitação dos “estilos de vida alternativos” de várias minorias visíveis.
Os únicos cujas consciências não são absolutamente respeitadas são, de fato, os membros da maioria cristã! E isto sob as penas da lei.
         O problema que se põe para nós, católicos, é que uma tal renúncia interna às nossas próprias convicções equivale a uma apostasia. Porque a fé consiste precisamente em sustentar com vigor como verdade tudo aquilo que Deus nos ensinou, uma vez que Ele não se engana nem pode nos enganar. Portanto, a Fé é incompatível com a atitude voluntária permanente ou mesmo transitória de dúvida, pressuposta na atitude de “tolerância” que nos é prescrita pelas nossas sociedades.
         Fazendo-o, o Estado laicista moderno desencadeia uma perseguição dura e insidiosa, muito mais bem-sucedida que a dos islâmicos, dos hindus radicais, ou mesmo dos regimes comunistas no seu desígnio de transformar os católicos em apóstatas, ao invés de mártires.

Conclusão
Qual deveria ser a nossa reação em face desta crescente perseguição?
         Nem o otimismo cego daqueles que ingenuamente julgam que nunca serão confrontados com o dilema entre transgredir a lei ou permanecer fiel ao Credo católico, nem o pessimismo esmorecido daqueles que pensam que as sociedades modernas estão definitivamente instauradas e, portanto — como dizem alguns —, que a única coisa a ser feita é salvar individualmente as almas através de um apostolado catacumbal...
Devemos reagir e defender por todos os meios legais nossos direitos — e, acima de tudo, os direitos de Deus e da Igreja —, sabendo que o nosso nobre exemplo de resistência tocará os corações e as mentes de nossos contemporâneos, apressando a sua conversão do mesmo modo como o sangue dos mártires derramado nas arenas romanas pavimentou o caminho para o surgimento da maravilhosa Civilização Cristã da Idade Média.
Possa a Santíssima Virgem nos obter do Divino Espírito Santo o dom sobrenatural da fortaleza e a confiança no triunfo final da Igreja Católica sobre todos os seus perseguidores da atualidade.

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