RECEBEI O ESPÍRITO SANTO
POR: PE. TARCÍSIO AVELINO, TF
Finalmente chegou o grande dia do coroamento da missão de Jesus na
terra.
Não bastava que Ele tivesse se tornado homem para poder morrer em nosso
lugar destruindo o muro que nos separava de Deus e mostrar-nos com Sua vida o
caminho de volta para o Pai, convinha, de fato, que Ele nos capacitasse a
trilhar este caminho, uma vez que é um caminho longo, árduo e que conduz a uma
porta estreita. Além disso, convinha que Aquele que sendo o próprio Amor, que
nos criou para si e cuja vontade é ter-nos junto a si, colhesse logo, sem
derrespeitar a liberdade humana, os frutos da Redenção operada com tanto
sofrimento, com a Paixão e morte sangrenta de Seu Filho, e o fruto esperado
deste “Grão de Trigo” caído na terra que morreu para que tenhamos Sua Vida, é a
Comunhão com Deus. Sendo assim, convinha que Deus se unisse desde já àqueles
que, aderindo a Cristo pela fé, se tornassem aptos a uma comunhão intima com
Deus da forma mais intima e intensa possível que a natureza humana pudesse
suportar, daí a razão da Solenidade de Pentecostes que celebramos hoje.
Depois do pecado original, Deus poderia ter sanado pela raiz todas as consequências
da ruptura do homem com Ele mas Ele estaria se contradizendo a Si mesmo pois, (ao
optar por nos criar à Sua imagem e semelhança, capazes de contrair uma comunhão
plena com Ele que nos criou justamente porque sendo amor desejava se dar mais e
mais. Nos criou para Se dar a nós), então fazia-se necessário deixar que o
homem sofresse todas as consequências de sua opção até que, chegando ao seu
cume, na plenitude dos tempos, Deus rompe a distancia que Dele nos separava, que
tinha chegado ao seu máximo grau, encarnando-se, ou seja, fazendo-se homem como
nós para que, respeitando novamente e inteiramente a liberdade na qual nos
criara, pudesse oferecer-nos todas as condições de voltarmos para Ele.
Sendo assim, fazia-se necessário não somente a Encarnação para que
sofresse em si as consequências de nosso pecado e quebrasse o muro que dele nos
separava como também para que, com Sua vida relembrasse aos homens sua essência,
ou seja, sua identidade de Filhos de Deus, ensinando-nos o caminho de volta
para o Pai.
Mas não bastava mostrar o Caminho, era preciso capacitarnos a trilhar
esse árduo caminho de retorno, chamado conversão, que dura toda a vida, que
consiste na mortificação de todas as más tendências ou vícios que se acenderam
no ser humano advindo de cada pecado cometido, por isso convinha que recebêssemos
O Poder de Deus, a capacitação para concretização deste desejo que Ele mesmo,
com Sua vida acendeu em nós ao nos atrair a Si, revelando-nos todo o Seu amor.
Convinha que a missão de Cristo nesta terra fosse coroada com o
derramento do Espírito Santo porque sendo Deus amor, e, sendo próprio do amor o
desejo imenso de estar sempre junto do amado, não era justo que O Pai esperasse
até o dia do Juízo final para poder colher os frutos da Redenção operada com tantos sofrimentos por
parte de Seu Filho, convinha, assim, que Deus pudesse se dar a nós de uma forma
que se adequasse à nossa pequenez para que não morrêssemos desintegrados por
tanta alegria diante de tamanha Beleza, Grandeza, Força e Magestade que é Deus,
assim, convinha que Deus se desse a nós, antecipando a Comunhão eterna do Céu,
por meio de Seu Espirito que testemunhando Jesus em nós nos faz deseja-lo mais
e mais e à medida que mais e mais vamos nos aderindo a Ele, mais e mais nos
capacitamos a unir-nos com Ele eternamente.
“Recebei o Espírito Santo”. Sim, convinha que Aquele que é O Amor do Pai
e do Filho viesse a nós para que, de forma sutil, fosse nos conduzindo passo a
passo a corrigir todas as más consequências de nossa ruptura com Deus, a qual é
tão bem representada pelo episódio de Babel que nada mais é do que uma parábola
do pecado original que consistiu no orgulho do homem querer chegar a Deus sem
contar com Deus. O aniquilamento ao qual Ele se submeteu para chegar até nós
pela Encarnação e pela Eucaristia mostra-nos que seria impossível vencer esta
distancia infinita que separa, mesmo o homem em Estado de Graça do Seu Criador,
se Ele mesmo não tivesse se antecipado e tomado a inciativa. Sendo assim,
Pentecostes se revela como o coroamento da Redenção de Cristo que, tendo restituído
a Comunhão de Deus com os homens pôde agora, restaurar a desordem causada por
Babel na qual os homens longe de Deus não se entendiam mais e se separavam uns
dos outros mais e mais e a confusão das línguas em Babel pode, por causa do
Amor, ser substituída por uma língua que todos entendem a língua do amor,
falada neste corpo místico de Cristo, a Igreja, na qual cada um com sua função
especifica se apressa em socorrer as necessidades do outro até que, neste exercício
de amor, chegue o dia em que estarmos em condição de ser um com O Amor, eterna
e plenamente, assim seja.