HOMILIA DO DOMINGO
DA SANTÍSSIMA TRINDADE
POR PE. TARCISIO
AVELINO
Depois de ter renovado todos os Mistérios de nossa Salvação, desde a
Encarnação do Verbo até Pentecostes, a Liturgia de hoje nos convida, não a
decifrar o Mistério de um Deus que é Tres em um mas a mergulhar no Seu Mistério
sem procurar entender mas somente procurar contemplar e se deixar levar por
esta corrente de amor que é Deus.
A Ssma. Trindade é o Mistério central de nossa fé do qual brota toda
graça e todo dom dos quais temos necessidade para chegarmos a Ele mesmo. A
Ssma. Trindade é o ponto de partida, a fonte e o fim ao qual queremos chegar.
As Leituras de hoje bem como toda a Bíblia revelam a pedagogia de Um
Deus que se revela pouco a pouco sendo que no Antigo Testamento nos é revelado
sobre tudo a completa distinção entre O Criador e a criação bem ccomo o modo
como Ele se relaciona com ela como Criador e Senhor que é o Incriado, ilimitado
por espaço e tempo, Onipotente mas ao mesmo tempo um pastor que cuida de suas
ovelhas de modo pessoal e atencioso e próximo de seu povo como vemos na Primeira
Leitura cujo contexto do capítulo 4 do
Livro do Deuteronômio é um texto redigido, muito provavelmente, na fase final
do Exílio do Povo de Deus na Babilónia. Perdido numa terra estrangeira e
mergulhado numa cultura estranha, hostilizado quando tentava afirmar a sua fé
em Jahwéh e celebrá-Ia através do culto, impressionado com o esplendor ritual e
as solenidades do culto babilónico, o Povo bíblico corria o risco de trocar
Jahwéh pelos deuses babilónicos. É neste contexto que os teólogos da escola
deuteronomista vão convidar o Povo a olhar para a sua história, a redescobrir
nela a presença salvadora e amorosa de Jahwéh e a comprometer-se de novo com
Deus e com a Aliança.
Se o Evangelho nos sugere que o Batismo pelo qual aderimos a Cristo é um
mergulho nesta corrente de amor do Pai que desde toda a eternidade gera o Filho
e do Filho que desde toda eternidade se dá ao Pai e que esta corrente de amor é
o Espirito Santo que desde toda eternidade procede do pai e do filho, a Segunda
Leitura vem confirmar a proximidade desde Deus que, embora Tremendo e tão
solícito conforme se revelara no Antigo Testamento mas não um simples mergulho
impermeável, e sim um mergulho que nos dá a capacidade sobrenatural de amarmos
como Deus e vivermos a vida de Deus porque pelo Batismo somos feitos filhos de
Deus e coherdeiros de Cristo. Este é o Mistério que somos chamados a revelar a
todas as nações e este é o motivo pelo qual o último encontro de Cristoc com
Seus discípulos se dá na Galiléia dos pagãos, lugar onde os judeus conviviam
com pessoas de varias nações que não praticavam a religião do Deus Único, para
mostrar que Sua Mensagem é universal e que todos são convidados pelo Pai a
participar de Sua vida divina. E é com nossa vida de amor que atrairemos outros
para essa corrente de amor como Cristo mesmo dissera: “nisto conhecerão que vós
sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
Assim, esta Solenidade não tem o objetivos de nos levar a decifrar o
Mistério do Inefável mas de nos convidar a contemplar a grandeza da corrente na
qual fomos mergulhados pelo Batismo para nos decidirmos a viver finalmente de
Sua vida renunciando as propostas dos falsos deuses, ou melhor aos ídolos que
constantemente vamos tomando como senhores ao longo de nossa caminhada neste
mundo, como a moda, o dinheiro, o prazer, o fisiculturismo, etc., tenho vivido da
vida divina que consiste em amar ou tenho me contentado com aquilo que o mundo
chama de vida mas que conduz à morte e ao vazio interior?
“Reconhece, pois, hoje, e grava-o em
teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e
que não há outro além dele.Guarda suas leis e seus mandamentos, que hoje te
prescrevo, para que sejas feliz, tu e teus filhos depois de ti, e vivas longos
dias sobre a terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre”. Isso é viver
a vida de Deus, guardar os Seus mandamentos que se resumem em amar, ou seja, em
se deixar amar por Ele de graça e em se doar a todos atraindo-os para essa
corrente de amor com o mesmo amor com que Ele nos ama e que “foi derramado em
nossos corações pelo Espirito Santo que nos foi dado” (Rm.5,5). Isso é celebrar
a Solenidade da Santissima Trindade.