QUINTA FEIRA SANTA: AS LIÇÕES DO LAVA-PÉS


Evangelho: Jo 13, 1 – 15

 É interessante notar: João 13 não fala da Eucaristia como Mateus 26,26-29; Marcos
14,22-25; Lucas 22,17-20). João sequer nomeia a Páscoa dos judeus nem a faz coincidir com a Páscoa de Jesus (13,1). Jesus não celebra a Páscoa judaica.
3. A verdadeira Páscoa é a que Jesus celebrará com sua morte na cruz. Reforçando
esse argumento, há o fato de João não mencionar Jerusalém. Jesus havia rompido definitivamente com o sistema opressor instalado na capital, para inaugurar uma nova era de serviço e de partilha, na qual o próprio Deus toma a iniciativa, consciente de ser o grande servidor.
O Evangelho de hoje deixa claro que Cristo, diferentemente de Pedro tinha plena consciência do que estava fazendo, antecipando sacramentalmente, a entrega total que de Si fará na cruz do calvário. "Amou-os até o fim", quer dizer, amou-os inteiramente gastou-se inteiramente por eles e por cada um de nós, até culminar com a maior prova de amor que se pode dar, dar a vida por um amigo, mas Ele, mostra até aonde vai o Seu amor por nós, a ponto de dar Sua vida por nós quando ainda éramos, pelo pecado inimigos de Deus.
O que ele vai fazer, não o fará arrastado pelas circunstâncias, mas consciente de que abre o caminho de acesso para o Pai.  "Amou-os até o fim”, – até a perfeição do amor. O que vem a seguir quer exemplificar o que significa “amar até as últimas conseqüências”.
O Lava-pés
Sentar-se à mesma mesa, tomar refeição juntos, comer do mesmo alimento é sinal
de intimidade, de comunhão e partilha (em qualquer lugar do mundo). Mas Jesus vai além. João diz que a Ceia já começara e Jesus teria ocupado o lugar de honra. E Jesus vai mostrar concretamente – com fatos – de que honra se trata. Não é aquela de Judas de quem o diabo havia tomado conta do coração (=ambição, concentração de bens, espírito de não-partilha)  .
 Jesus,  consciente de estar realizando o projeto de Deus (v.3), – mostra na práticaqual é a norma de vida da comunidade cristã: despoja-se do manto (sinal da dignidade do “senhor”), e pega o avental (toalha, ferramenta do “servo”). É o Senhor que se torna servo (Fl 2,6-7: “ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a seme-lhança humana”). Despojar-se do manto significa dar a vida sob a forma de serviço. De fato, quem devia lavar os pés eram os escravos não-judeus ou as mulheres (filhas, esposas). Daí o escândalo de Pedro.
  Vale notar que, ao dizer que retoma o manto, não se diz que tirou o avental, dando  a entender que ele tenha vestido o manto por cima. Isso significa que o serviço continuará, culminando na cruz: “está consumado”. O Lava-pés de Jesus, portanto, se prolonga até a cruz, e nela tem seu ponto culminante.
 Pedro ainda está mergulhado nas suas categorias de “senhor x servo”, de uma
sociedade de relações desiguais (sociedade, não comunidade). Espanta-se que o Senhor lhe lave os pés (v.6). O súdito não aceita a igualdade (o súdito tem a cabeça do patrão, a desigualdade). Por isso, Jesus  diz que Pedro não pode agora, mas só mais tarde compreen-derá, quando, depois de ter chorado amargamente sua tríplice negação, terá a oportunidade de satisfazer este pecado por uma tríplice declaração de amor. Pedro se firma na posição de que a desigualdade é legítima e até necessária para
a ordem na comunidade. A resposta de Jesus é radical: se não for assim, será impossível ter parte com Ele, ou seja, não pode ser seu discípulo e o projeto de Deus não se cumpre. O processo de conversão exige adesão total ao projeto de Deus realizado em Jesus-servo. Pedro então, como sempre, levado por um entusiasmo impensado, supera a primeira fase: “Senhor, lava então não só os meus pés, mas também as mãos e a cabeça” . Mas ele ainda não aderira ao que Jesus faz, nem mesmo entendera bem. Para ele, o Lava-pés era um rito de purificação, ao qual, como todo judeu, ele estava acostumado: lavar-se para eliminar a impureza legal e ritual. Porém, Jesus mostra que mesmo purificando-se ritualmente, é possível continuar  impuro, como é  o caso de Judas: lavados os pés , sua impureza permanece, porque seu coração aderiu ao diabo, o espírito anti-fraterno que leva à cobiça e afasta do serviço e da partilha.
A purificação judaica contemplava só o lavar as mãos; ao lavar os pés Jesus dá a dimensão verdadeira do ser discípulo: ser servo dos outros, não se colocar acima dos outros, mas estar sempre disposto a servir e a partilhar (a começar do coração, do amor… e de um amor sem limites… até o fim!).
Então Jesus retoma o manto e se põe de novo à mesa (volta à posição de homem livre, pois os escravos não se sentavam à mesa), mas conserva a disposição de servo (não tira o avental). A cena é fortemente simbólica: ele continua sendo sempre aquele que serve. De fato, Jesus só é despojado do avental na cruz, pois é aí que concluiu o seu serviço. (Aí … lhe é tirado o avental!).
 O que segue tem valor de testamento-mandamento: “vocês me chamam Mestre e Senhor eu o sou! Ora, se Eu, vosso mestre e Senhor vos lavei os pés vós também deveis fazer o mesmo".
1ª. Leitura: Ex 12, 1-8 . 11 -14 Neste texto vemos que a Páscoa marca o início de um novo tempo, tempo da libertação: “este
mês será para vocês o começo dos meses, será o primeiro mês do ano. Inicia-se nova vida. Chegou a libertação. A festa vai determinar o futuro do povo: será um povo para a libertação. É o inicio da vitória do povo sobre as estruturas do poder opressoras (do Egito, da Babilônia, e dos nossos dias…).Esse novo tempo é marcado pela partilha, onde ninguém tenha demais e a
ninguém falte o que comer: “se a família for pequena demais para um animal, convidará também o vizinho mais próximo de acordo com o numero de pessoas” . O que sobrar, o fogo devorará .È uma festa de preservação da vida: o sangue afugentará os maus espíritos, mas também servirá de sinal para a preservação de Israel enquanto povo, ameaçado que estava de desaparecer pela política de morte dos poderes opressores: o Faraó que controla os nascimentos (Ex 1,15-16) e todo e qualquer sistema impositivo que controla a origem da vida.
21.4. é uma festa de memória histórica. Lembra o passado desastroso (ervas
amargas). É celebrada às pressas (pães sem fermento). Os que dela tomam parte devem estar preparados para uma longa viagem (v.11), que os leve longe do sistema opressor e os introduza numa sociedade plenamente humana e fraterna, onde reine a liberdade e a comunhão.
2ª. Leitura: 1 Cor 11, 23 – 26
. Os versículos de hoje contemplam basicamente a narrativa da instituição da Eucaristia. Paulo (que não estivera na última ceia) afirma tê-la recebido do Senhor e transmitido às comunidades de Corinto. Esta é a garantia maior de autenticidade: “eu a recebi do Senhor e transmiti a vocês”,
 A ceia do Senhor está vinculada a um fato e data históricos: – a noite em que o Senhor Jesus foi entregue. Essa noite é mais importante que a noite da saída do Egito (Ex 12), celebrada na ceia pascal judaica e se reveste de caráter pascal insuperável.
Trata-se de um memorial que não é simples repetição mecânica de um rito. Memorial é reviver os acontecimentos passados, experimentando hoje os seus efeitos que implicam, exatamente, no contexto em que Paulo escreve este texto da instituição da Eucaristia e do sacerdócio que hoje celebramos, porque assim como os corintios estavam querendo celebrar a Eucaristia sem se importar com os mais pobres da comunidade, sem partilhar com eles seus alimentos, nós também comemos a nossa própria condenação quando recebemos Cristo na comunhão, sem querer imitar o exemplo que Ele nos deu antes de Insituir Este Sacramento que antecipa Sua entrega total no Calvário. Para poder comungar o corpo e o sangue do Senhor é preciso comungar com a vida do irmão. Amar é se dar, é se gastar pelo outro como Cristo que, lavando os pés dos seus discípulos nos diz: "Se eu vosso mestre e senhor vos lavei os pés é para que vós façais o mesmo". Se a função do mestre é ensinar, Cristo ensinou com Sua vida e nós seus discipulos temos a função de imitá-lO.
 A liturgia de hoje nos ensina a amarEnsina-nos a amar,  não sabemos amar, muito menos amar até o fim. Quem no-lo ensina é Jesus. “Antes da Páscoa … amou-os até o fim … eu dei o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu vos fiz” (Jo 13,1.15).
 A 1ª. leitura de Êxodo fornece o fundo histórico para situar a última Ceia como refeição pascal na vida de Jesus e nas raízes judaicas da liturgia cristã. Conta a instituição da refeição do cordeiro pascal no antigo judaísmo, com o sentido salvífico que Israel aí reconhece: a libertação da escravidão. A história que João nos relata situa-nos nesse contexto da páscoa. Para os
judeus a ceia pascal é a principal celebração em memória de sua história, e, portanto, de sua identidade como povo. Comemoram a passagem do Senhor Deus, que os libertou da escravidão e fez deles seu povo. Jesus, celebrando a Páscoa com seus doze discípulos, fez da Páscoa o memorial de sua passagem: sua missão da parte de Deus e sua volta ao Pai, através do dom de sua vida na cruz. Fez da Páscoa o memorial do seu amor até o fim.
 O gesto do Lava-pés é  um gesto profundamente inquiridor: por isso, deve levar-nos a entender a sua profundidade e a sua ingerência na nossa vida. Estamos muito distantes da atitude do Senhor.  Mais do que um gesto de humildade, o Lava-pés é uma demonstração muito concreta de compromisso de amor, de fraternidade.  “Amai-vos como eu vos amei”. Dai a vida como eu a dei por vós.   Deus é amor. E amar é sair de si e ir ao en-
contro do outro. Essa é a definição básica e fundamental de amor, aliás, a única. Não dá para ajustá-la ao nosso jeito… Esta é a grande questão! Queremos que Deus nos ame. Queremos sentir-nos aconchegados por Deus. Mas não sabemos, não nos dispomos e não temos coragem de sair de nós mesmos (deixar nossos interes-ses) e ir ao encontro dos outros para levar aconchego, carinho, compreensão, soli-dariedade, perdão, … abrir o coração e deixar que os outros entrem!
 Por quê celebrar a Páscoa? Para entendermos Jesus Cristo!
 É um memorial: revivemos o gesto de amor do Filho de Deus, hoje atualizado
na nossa vida… aqui na nossa celebração. Amor por nós: por mim, por você!
 É uma vida nova. O amor do Filho de Deus nos libertou para sempre: o mal e a morte não tem mais a palavra final. Cristo nos abre  o horizonte para sairmos das trevas da ignorância, da ganância, do acumular quanto mais melhor e depois não saber nem o que fazer com tudo o que acumulamos. E pior ainda, depois de tudo, não alcançamos a felicidade, a tranquilidade, a alegria, e a tão almejada paz de espírito.
Um novo modo de viver: a partilha. Se abrirmos os olhos e o coração à mensagem do Filho de Deus, descobriremos que a partilha, ela, sim, traz alegria, contentamento, felicidade, paz.
 Jesus que nos toma pela mão (e nos leva ao seu coração) para ensinar-nos a abrir o nosso coração  a ele, ao Pai e aos irmãos. Somente assim celebraremos com Jesus a Páscoa que nos renova verdadeiramente: a Páscoa de Jesus, a nossa Páscoa de hoje em caminho para a nossa Páscoa definitiva na casa do Pai.

3 comentários:

  1. Hoje, Quinta-feira Santa, iniciamos o Tríduo Pascal e é muito importante termos na mente e no coração o que vamos celebrar: Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A Quaresma termina na Quinta-feira Santa com a Missa dos Santos Óleos. Em cada Diocese do mundo, o bispo se reúne com os sacerdotes em uma celebração onde é confeccionado os óleos da Crisma, dos catecúmenos e o óleo dos enfermos.
    A Quinta-feira Santa é o dia em que se faz memória da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio, pronunciando a bênção sobre o pão e o vinho. Jesus manifesta a intenção de perpetuar a sua presença em meio aos discípulos: sob as espécies do pão e do vinho. Ele se torna presença real entre nós.
    Durante a Última Ceia, os Apóstolos são constituídos ministros deste Sacramento de salvação; a esses, Jesus lava os pés, convidando-lhes a amar uns aos outros como Ele lhes tinha amado, dando a vida por eles. Repetindo esse gesto na Liturgia, também nós somos chamados a testemunhar ativamente o amor de Jesus. A Quinta-feira Santa, enfim, encerra-se com a vigília, na recordação da agonia do Senhor no Horto das Oliveiras.
    Na Sexta-feira Santa, faremos memória da paixão e da morte do Senhor. Adoraremos Cristo Crucificado no gesto de beijar a cruz, participaremos nos seus sofrimentos com a penitência e o jejum. Lançando "o olhar àquele que foi transpassado", podemos chegar a seu coração que emana sangue e água como de uma fonte; daquele coração do qual brota o amor de Deus por todo o homem.
    Na Sexta-feira Santa deixemo-nos guiar por Jesus até a cruz, recebamos a oferta do seu corpo imolado. Enfim, na noite do Sábado Santo, celebraremos a solene Vigília Pascal, na qual nos é anunciada a ressurreição de Cristo, a sua vitória definitiva sobre a morte que nos interpela a ser n'Ele homens novos. Participando da Santa Vigília, a Noite central de todo o Ano Litúrgico, faremos memória do nosso Batismo, no qual também nós fomos sepultados com Cristo, para poder com Ele ressuscitar. Uma Feliz e Santa Páscoa a todos!

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  2. Evangelho
    Jo 18,1-19,42: “Ele tomou o vinagre e disse: ─ Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.”

    João deixa claro que Jesus assumiu livremente sua morte. Quando ele disse “está consumado”, não estava dizendo “acabou, é o fim”. Afirma que sua morte é o ponto mais alto de sua vida, que lhe dá todo o sentido. Nasceu, cresceu, trabalhou, riu e amou, ensinou fez de sua vida humana participação em nossa vida e entrega contínua à vontade do Pai. Viveu em tudo nossa vida humana para nos fazer participantes de sua divindade.

    Oração:
    Senhor Jesus, olhando-vos morto na cruz, vendo até onde quisestes chegar para me salvar, não posso duvidar de vosso amor. Nem posso deixar de vos amar, a vós que a tal ponto me amastes. Confio em vós e quero viver a vida nova que me ofereceis. Por maiores que sejam as dificuldades, não permitais que vos abandone. Ajudai-me a fazer de minha vida um ato de amor e obediência ao Pai, e de serviço a meus irmãos. Amém.

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  3. " Sexta feira santa:Acompanhar Jesus na sua Paixão,solidários com os sofrimentos da humanidade."Para chegar aos fulgores da Páscoa precisamos atravessar o Jardim das Oliveiras e o CALVÁRIO" Padre Tarcísio,sua homilia nos convida a seguir o Mestre vamos adorar jesus na Cruz,obediente ao pai."Se for possível afasta de mim esse cálice"Faça-se a Tua Vontade e não a minha"Peço sua Bênção Irmã maria Letícia do Sagrado Coração OIC

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