CORPOS INCORRUPTOS
- Apenas na Igreja Católica se registram mais de 1200 casos no mundo
Lembra-te que és pó e ao pó retornarás
(Foto: Santa Bernadete Soubirous
1844-1879)
No livro do Eclesiastes, se lê esta frase: 'Lembra-te que és pó. E ao pó
retornarás'. Além de lembrar ao homem sua condição perecível e transitória,
esta sentença recorda a aniquilação física, a decomposição do organismo, após a
morte. A realidade é constatada quase universalmente. Digo quase
universalmente, por se darem exceções, embora raríssimas, de não decomposição
física. Exceção esta conhecida pelo nome de Incorrupção.
A Incorrupção é a preservação do corpo humano da deteriorização que
comumente afeta todo organismo poucos dias após a morte. É evidente que são
excluídas as mumificações, as saponificações e outros processos químicos de
preservação dos corpos dos mortos; pois seriam incorrupções artificiais.
O primeiro documento de autenticidade indiscutível que relata uma
Incorrupção, data do século IV e é redigido por Paulino, secretário de Santo
Ambrósio, Bispo de Milão: este documento é redigido em forma de carta dirigida
ao Bispo de Hipona, Santo Agostinho. Paulino descreve o descobrimento feito por
Ambrósio: 'Por este tempo, ele (Ambrósio) encontrou o corpo do mártir Nazário
que se encontrava enterrado num jardim fora da cidade de Milão; recolheu o
corpo e o transladou para a Basílica dos Apóstolos. No túmulo foi encontrada a
cabeça que fora decepada pelos inimigos, em perfeito estado, como se tivesse
apenas sido colocada junto ao corpo, do qual emanava sangue vivo e uma
fragrância que superava todos os perfumes'. Tinham transcorrido 200 anos do
martírio.
Mais preciso e mais digno de crédito é o relato de Eugippius acerca do
corpo de São Severino, bispo de Noricum, morto em 482. Seis anos após sua
morte, o corpo foi encontrado incorrupto. Embora existam muitos outros casos a
partir do século IV até o século XVI, interessam-nos mais as preservações a
partir do século XVI, por possuirmos fontes históricas mais comprovadas e mais
fidedignas.
Em 19 de outubro de 1634, falecia a Madre Inês de Jesus, priora de
Langeac. Seu corpo, sem sofrer qualquer processo de extração de entranhas ou de
embalsamento, foi sepultado na sala capitular, ao lado de outros membros da
comunidade. Passados alguns anos, o Sr. Bispo, em vista do processo de
Beatificação, ordenou que seus restos fossem exumados. O corpo foi encontrado
sem sinal de decomposição. Transladações e verificações foram realizadas até o
ano de 1770. Em 1698 e 1770, cientistas, cirurgiões e médicos declararam que
humanamente, a preservação do corpo era inexplicável.
São Vicente de Paula faleceu em 1660, para atender aos pedidos de
canonização a exumação do corpo foi feita em 1712, depois de mais de 50 anos de
sua morte. Aberto o túmulo, na expressão de uma testemunha ocular 'tudo estava
como quando foi enterrado'. Quantos puderam vê-lo, observaram que seu corpo
estava em perfeitas condições e os médicos atestaram que o corpo não podia ter
sido preservado por meio natural algum, durante tanto tempo.
A beata Maria Ana de Jesus, terciária da ordem de Nossa Senhora da
Redenção, nascida em Madrid e falecida na mesma cidade em 1642; teve o corpo
preservado da decomposição. Pouco depois de sua morte, o Cardeal Treso, Bispo
de Málaga e presidente da Castela; que a conhecera pessoalmente em vida, no
processo de beatificação, declara ter estado presente na primeira exumação e
afirma: 'Eu ví e me assombrei ao presenciar que o corpo morto há anos, sem que
tivessem sido retiradas as vísceras ou embalsamado, pudesse estar tão
perfeitamente conservado que nem sequer o abdômen e nem as faces oferecessem
sinal de deteriorização, com exceção de uma mancha nos lábios, embora esta já a
tivesse em vida'.
Em 1731, tendo já transcorridos 107 anos da morte da Serva de Deus, teve
lugar uma inspeção oficial e mais completa, por ordem das autoridades
eclesiasticas interessadas na causa da Beatificação. Os restos mortais se
apresentavam suaves, flexíveis e elásticos ao tacto. Esta investigação teve
lugar em Madrid, tendo sido fácil reunir médicos e peritos. Nove professores de
medicina e cirurgia tomaram parte nas investigações e depuseram como
testemunhas. Foram feitas incisões na parte carnosa e no peito; foram estudados
os orifícios naturais por onde poderiam Ter sido introduzidos preservativos
contra a putrefação. Foi uma verdadeira dissecação.
Após completar as investigações, os médicos declararam:
'Os órgãos internos, as vísceras e os tecidos carnosos, estavam todos
eles intactos, sãos, úmidos e elásticos'.
Baseada nesse testemunho, a Congregação dos Ritos aceitou a preservação
como fato milagroso, apesar de 35 anos mais tarde, antes que fosse publicado o
decreto de beatificação, uma terceira inspeção revelasse que na oportunidade, o
corpo já não era mais flexível e brando. Os tecidos tinham endurecido, mas não
estavam decompostos.
(Foto: São Vicente de Paula
1580-1660)
Uma outra narração nos chama a atenção; é a do mártir jesuíta André
Bobola, que tendo combatido com sua palavra, os cismáticos russos, tornando-se
conhecido como o "apóstolo de Pinsk", atraiu o ódio de seus
adversários, os cossacos; e foi submetido a um cruel martírio. Em mãos dos
cossacos, e recusando-se a aceitar o cisma russo, foi açoitado, ultrajado de
uma maneira incrível. Foi praticamnte esfolado vivo, cortada uma mão, enfiados
estiletes de madeira por debaixo das unhas, arrancada sua língua, e sua fisionomia
tão deformada que mal parecia homem. "Sangrava, afirmava uma testemunha,
como um boi no matadouro". Após horas de tormento, saciados já os
sanguinários e dando apenas sinais de vida, desferiram-lhe um golpe de espada
na garganta. Após jogar o deformado cadáver numa esterqueira, retiraram-se os
cossacos e os católicos recolheram os restos mutilados e os enterraram às
pressas na cripta da Igreja dos Jesuítas, em Pinsk.
Quarenta e quatro anos mais tarde, o reitor do colégio dos jesuítas de
Pinsk, por uma visão ou sonho que acreditou ser sobrenatural, fez uma
investigação para encontrar o corpo do mártir. Foi encontrado, segundo todas as
aparências, exatamente no mesmo estado em que fora depositado: com as
mutilações, continuava integro e incorrupto; as articulações continuavam
flexíveis; a carne, nas partes menos afetadas pelas mutilações era elástica e o
sangue que cobria o cadáver parecia recém-coagulado. O último exame ordenado
pela Santa Sé, teve lugar em 1730 - setenta anos depois da morte. Seis eclesiásticos
e cinco médicos mantiveram as declaraçoes anteriores. Também eles declararam
que o corpo, exceto as feridas causadas pelos assassinos, estava intacto; a
carne conservava-se flexível e que sua preservação não poderia ser atribuída a
uma causa natural. Em 1835, a preservação do corpo foi aceita pela Congregação
dos Ritos, como um dos milagres exigidos para a beatificação. Segundo
testemunhas, nenhum corpo dos depositados na cripta onde se encontrava o corpo
de André Bobola foi preservado.
Não se pode afirmar que tal fato pertença somente aos séculos passados;
Santa Madalena Sogia Barat, fundadora da sociedade do Sagrado Coração, faleceu
em 1865; vinte e oito anos mais terde, seu corpo foi encontrado quase
pefeitamente inteiro, embora o ataúde estivesse parcialmente podre e recoberto
de mofo. Imunidade idêntica foi outorgada a Joào batista Vianney, o célebre
Cura De Ars que morreu em 1859 e foi beatificado em 1905. Identico privilégio
coube à vidente de Lourdes, Bernardete Soubirous; faleceu em 1879 com a idade
de 34 anos. Em 1909, passados 30 anos, o corpo foi exumado e uma testemunha
afirma: "Não havia o menor indício de corrupção. Seu rosto aparecia
levemente escurecido e os olhos um tanto afundados, parecendo estar
dormindo". O corpo foi novamente encerrado num ataúde juntamente com um
informe do estado em que foi encontrado.
(Foto: Santa Clara de Assis
1194-1253)
Poderíamos continuar a enumerar fatos, mas os já citados são suficiente
para dar um idéia do fenômeno da Incorrupção e sua inexplicabilidade. Digo
inexplicabilidade, porque, apesar de existirem outros tipos de incorupção, não
coincidem com a exposta.
Corrupção total do corpo e preservação integral de certos órgãos - Se a
preservação total ou parcial da corrupção de alguns corpos é um assunto
intrigante para a ciência e enigmático também para a Igreja, para a qual a
simples constatação da incorrupção não é critério de santidade, e portanto,
milagre evidente, muito mais intrigante e enigmática é a preservação de um
determinado membro de um corpo que foi reduzido a pó. Será, logicamente, muito
mais difícil para a ciência encontrar uma explicação para tal preservação e um
caminho muito mais aberto e claro para a Igreja afirmar o fato como miraculoso.
Nenhum exemplo poderia ser mais sugestivo para discernir a Providência
Divina do que a preservação parcial do coração de santa Brígida, da língua de
Santo Antonio, de São João Nepomuceno e da beata Batista Varani.
Santa Brígida, da Suécia faleceu em 23 de julho de 1373. Seus restos
mortais foram exumados; tudo estava reduzido a pó encontrando-se o coração
incorrupto.
A atitude da Igreja Católica mostrou-se sempre muito cautelosa perante
fatos inusitados, inclusive perante a incorrupção dos corpos de pessoas santas.
Num levantamento feito pelo competente e autorizado estudioso de
Parapsicologia, Pe. Herbert Thurston, S.J, com 42 santos célebres por sua vida,
obra e santidade, entre os quais muitos foram encontrados incorruptos depois de
anos, assevera o mesmo autor que nenhum deles foi canonizado por ter sido
preservado da corrupção.
Há aqueles que afirmam que a sobriedade na comida e na bebida,
característica de todos os ascetas, podem modificar completamente as condições
do metabolismo normal e tende a aliminar certa classe de micróbios que são mais
ativos no processo de putrefação; poderíamos replicar que existem muitas
pessoas pobres ou doentes ou por opção que são abstêmias, e uma vez mortas, a
lei da decomposição as acompanha normalmente.
A experiência comum mostra que não concorrendo condições extremas
excepcionais, por exemplo, um frio intenso, a decomposição chega, mais cedo ou
mais tarde e que antes de passados 15 dias da morte, são visíveis os primeiros
sinais.
E o problema tornar-se-á ainda mais insolúvel para o cientista ao
constatar que as incorrupções são verificadas em místicos e santos (em ambiente
religioso).
Muitos segredos da natureza já foram desvendados, dado o contínuo
progresso das diversas ciências. Há outros, entretanto, que são indescifráveis
porque não só superam as forças e leis da natureza, como também, e isto é
significativo, são característicos do catolicismo, e só dele.
(Foto: São João Vianey 1786-1859)
Não consta historicamente, apesar de aprofundadas pesquisas na procura,
que pessoas de outros credos e em qualquer outro tempo, tenham manifestado
ausência de rigidez cadavérica. No catolicismo, ela é exclusiva de pessoas que
em vida, manifestaram uma santidade excepcional, mas não de todos os grandes
santos, pois nenhum milagre tem regras fixas.
O primeiro caso de que temos notícias data de 1160 e a primeira pessoa
em que foi verificado foi Rainerio de Pisa. Quem relata o fato é um
contemporâneo e,ao que tudo indica, digno de crédito. "Seus menbros não
demonstravam depois da morte, nenhum sinal de rigidez. Pelo contrário,
conservavam-se úmidos e molhados de suor e eram tão flexíveis como os de um
homem vivo".
Pouco mais de meio século depois (1226), ocorreu a morte de São
Francisco e Assis. O novo superior da Ordem, o irmão Elias, num comunicado aos
demais confrades, descreveu minuciosamanete como durante os últimos dias,
Francisco era incapaz de levantar a cabeça. Seus membros "estavam rígidos
como os de um morto". Mas depois de sua morte... os membros antes rígidos
se tornaram flexíveis.
Pelo menos 50 casos bem estudados de ausência de rigidez cadavérica
existem entre santos da Igreja católica, desde o século 12 até nossos dias.
Exemplos - Parece oportuno agora falar um pouco sobre o aspecto
fisiológico da questão do "Rigor mortis".
Thurston revisou os manuais clásicos ingleses, franceses, alemães,
espanhóis e italianos sobre jurisprudência médica: "Não descobri nenhum
que reconhecesse a possibilidade de alguém estar isento da rigidez
cadavérica".
Há alguma variação com respeito a hora do aparecimento e término da rigidez:
pode variar algumas horas dependendo do clima e do continente. Para a
Inglaterra, por exemplo, o Prof. Glaister declara: "Ordinariamente a
rigidez começa no pescoço, mandíbula e no rosto, cinco ou seis horas após a
morte. Após dez horas, abrange toda a parte superior do corpo, e doze a dezoito
horas após a morte, afetará todo o corpo". Segundo E. Harnack, médico
alemão, na maioria dos casos, a rigidez chega a ser completa no prazo de 5 a 6
horas após a morte.
"Com toda a probabilidade, a rigidez terminará na maioria dos
casos, transcorridas 36 horas", dando origem à corrupção. Segundo os
clássicos alemães, porém, a rigidez cadavérica dura habitualmente 72 horas.
O "rigor mortis" pode demorar em aparecer até 16 horas após a
morte e permanecer até 21 dias, mas ambos são casos e circunstâncias
raríssimas, como determinadas substâncias usadas na medicação. Nas doenças de
consumpção, de curta ou prolongada duração, a rigidez pode começar
imediatamente após a morte e desaparecer logo, iniciando-se imediatamente a
putrefação.
O número de casos em que não se verificaram traços de rigidez cadavérica
é grande para enumerar e discutir um por um.
Cadáveres que destilam óleo - Surpreendente constatação: Certos
cadáveres, anos após a sepultura e até séculos depois, destilam um líquido
semelhante ao óleo vegetal. Outros, em idênticas condições, sem causa que o
justifique, emitem água.
É relativamente comum que este líquido brote de qualquer incisão feita
nos corpos preservados da corrupção.
Os católicos gregos, antes do cisma da Igreja oriental, tinham um nome
especial para determinados e numerosos casos de cadáveres de santos:
"movoblútai", isto é, "destiladores de óleo".
O Papa Bento XIV exige (e garante nestes casos) para afirmar a realidade
do prodígio da água e do óleo, que tenham sido removidas todas as causas
naturais, como a infiltração da água ou a possibilidade de Ter sido colocado
algum líquido. Os restos mortais devem ficar em lugar apropriado e
completamente seco, excluindo-se qualquer possibilidade de intervenção humana.
Aqui nos defrontamos com um fenômeno de todo inusitado e inexplicável
para o qual a ciência não pode encontrar nenhuma explicação razoável e
satisfatória, apesar de tratar-se de casos fáceis de examinar e constatar
qualquer vestígio de explicação, caso esta fosse possível. A evidência do fato
é indiscutível.
A Parapsicologia não encontra sequer uma hipótese que possa dar uma
pista ou tênue esperança de solução. A Parapsicologia no seu caminhar no estudo
do maravilhoso, se defronta, uma vez mais, com o absoluto Senhor da Vida, que
pode manifestar-se igualmente na morte, para testemunhar a Doutrina e santidade
de seus santos.
Pe. Oscar Quevedo
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