A ORAÇÃO MÍSTICA E SEUS DEGRAUS
ou
Os Graus de Oração em
Santa Teresa
Por Tomaz Alvarez
No ensino prático da
oração, Teresa fala frenquentemente de graus. Os graus da oração indicam ao
mesmo tempo uma possível escala de crescimento na relação do homem com Deus, e
diversas maneiras de se articular a mesma oração por parte do orante. Para
entender corretamente o pensamento da Santa é necessário ter em conta vários
aspectos: a) que a oração se mede pela vida do orante, e ao contrário, porque há
correlação entre uma e outra, entre oração e ação, ou entre oração e conduta,
pois não há relação com Deus sem uma sensibilização para os irmãos, ou para a
igreja e a humanidade. A melhor oração "é a que deixa melhores efeitos,
chamo efeitos quando são confirmados com obras" (carta 129,4 -
23.10.1576); b) e o segundo, haverá que ter em conta a idéia básica que Teresa
tem de oração, cão como simplres prática de treinamento (ato de solipsismo) do
orante, mas como trato de amizade entre os dois.
Os graus de oração nas
diversas obras de Santa Teresa
1. LIVRO DA VIDA
Iº grau: oração ascética
(cc. 11-13)
Esta oração pode ser
simples meditação da Palavra ou dos mistérios do Senhor, ou o pode e deve
desenvolver-se em forma de atenção amorosa e calada (c.13,22).
2º grau: ingresso
esporádico na oração mística (cc.14-15)
Chamada de "oração
de quietude", nome que Teresa retém para sua exposição. Consiste num
repouso pacífico e amoroso da vontade, fascinada pelo mistério divino.
Fascinação que se lhe outorga intermitentemente, porém que constitui uma nova
maneira de relacionar-se com o Amigo divino.
3º grau: várias formas de
oração forte, pré-extática.
Santa Madre fala em
"sono das potências", resultado de uma intensa infusão de amor na
vontade. A santa recorre às imagens do "glorioso desatino", a
"loucura celestial", a "embriaguez" da vontade,
"verdadeira sabedoria e deleitosíssima maneira de a alma gozar" (cc.
16-17).
4º grau: união mística.
Toda a atividade da mente
é unificada e todas as potências são unidas ao interlocutor divino. Expressa-se
em fenômenos místicos como o êxtase, o "vôo do espírito" (cc. 17-21),
os incontidos ímpetos amorosos, as feridas de amor (c. 29).
A escala de graduação
dessas diversas formas de oração se mede por seus efeitos na vida cotidiana do
orante. Mede-se também pela experiência que o orante adquire do Amigo divino e
de seu mistério.
2. CAMINHO DE PERFEIÇÃO
Neste livro Santa Teresa
fala aos jovens de seu primeiro Carmelo, portanto enfoca a oração nos
principiantes e os graus ficam em segundo plano. É um contraponto ao Livro da
Vida. Aos principiantes interessa:
a) Antes de tudo, a
oração vocal: aprendizagem dos conteúdos da oração dominical ensinada pelo
Mestre: o Pai Nosso (cc. 22...);
b) interessa-lhe
iniciar-se na oração mental, que lho acerque mais e mais à Humanidade de jesus:
aprender a olhá-lo, a escutar suas palavras, assimilar seus sentimentos, calar
diante dele (c. 22);
c) interessa-lhe
iniciar-se no recolhimento: interiorizar a oração, aprender a silenciar os
sentidos exteriores, celebrar a fundo a Eucaristia e assim dispor a alma para
possíveis formas de oração contemplativa infusa (c. 26-29);
d) segue um simples
esboço das primeiras formas de oração mística que o Senhor dará a quem Ele
quer, pois "não é porque nesta casa todas estão voltadas para a oração que
todas haverão de ser contemplativas" (17,1). "Santa era Marta, e não
dizem que fosse contemplativa" (ib.5). Isso sim, a todas lhes dará ele
essa água viva, mesmo que não seja nesta vida, será na outra.
3. RELAÇÃO 5
Neste texto, resposta às
perguntas de um teólogo consultor da Inquisição, Teresa enumera simplesmente os
graus místicos e propõe os seguintes:
a) entrada na experiência
da misteriosa presença de Deus (R5,25);
b) recolhimento infuso da
mente (n.3);
c) quietude e paz da
vontade (n.4);
d) "um sono que
chamam de potências", que as arrebata sem impedir-lhes de atender
simultaneamente às coisas da vida (n.5);
e) seguem os êxtases e
arroubamentos com suspensão de todas as potências. O espírito, mesmo que por
momentos, une-se a Deus (n.7-10);
f) "vôo do
espírito" (n.11-12);
g) ímpetos de amor
(n.13);
h) as feridas de amor (n.
17-18)
4. MORADAS
Primeiro grau: oração
sumamente rudimentar. Se o orante se acha todavia imerso no exterior e na
desordem interior, sua relação com Deus não poderá ser real; é como a relação
do surdo-mudo com os outros (primeiras moradas).
Segundo grau: inícios de
autêntica oração meditativa, fundada na nascente sensibilização para as
palavras e as coisas de Deus, e para a relação com Ele: o orante é - afirma
Teresa - como um surdo-mudo que começa a ouvir (segundas moradas).
Terceiro grau:
normalização da meditação, e certa estabilidade de vida espiritual (terceiras
moradas).
Quarto grau:
simplificação e estabilidade na meditação, com intervalos de quietude infusa da
vontade (quartas moradas).
Quinto grau: começa a
oração de união, estados mais ou menos prolongados de profunda união a Cristo,
à sua presença, a seus mistérios. Com a conseguente mudança no sujeito: mudança
em sua psicologia, em seu relacionamento com Deus, e em sua atitude com os
outros (quintas moradas).
Sexto grau: período de
oração extática, rica em graças místicas de todo gênero (sextas moradas).
Sétimo grau: oração de
união plena, de plena conformidade com a vontade de Deus. Misteriosa união a
Ele, caracterizada pela experiência da inabitação trinitária (M7,1); pela
experiência esponsal de Cristo Senhor (M7,2); pela especial maturidade do
orante e sua mudança de atitudes psicológicas e teologais (M7,7) e pela total
disponibilidade ao serviço dos outros, na plena configuração a Jesus (M 7,4).
Eis queridos amigos um dos principais objetivos dos membros de nossa Comunidade Teresiniana, galgar e ensinar os outros a progredir nos diversos graus da oração, principalmente os teresinianos de vida contemplativa. Que todos vocês nunca se contentem com o progresso que já fizeram mas desejem sempre mais de Deus!! Abraços, PE. TARCÍSIO AVELINO
Nenhum comentário:
Postar um comentário